Na última quinta-feira José Orlando
Amador, 68 anos, comemorou um aniversário diferente: os dois anos da
cirurgia de retirada da próstata, depois de constatado que três
fragmentos dela continham tumores malignos. Silenciosamente, como
geralmente ocorre, a doença começava a querer se infiltrar no corpo de
Orlando. Dois anos depois, praticamente curado, o aposentado agradece a
si próprio por nunca ter se esquivado de um procedimento simples. O
exame de próstata.
“Sempre fiz exames desde os 55 anos”,
lembra Orlando. No caso dele, os dois tipos. O PSA, que é o exame de
sangue e o toque retal, fonte de pavor e preconceito desnecessário por
parte de 70% da população masculina, segundo uma pesquisa feita em
diversas capitais brasileiras, incluindo Belém. “É um pouco
constrangedor, mas é rápido, fácil e não dói”, atesta Amador.
O argumento de José Orlando é
incontestável. É preferível fazer o exame a padecer de uma doença que
depois de instalada não tem cura. No mundo o câncer de próstata é o tipo
de câncer mais comum entre os homens. Pode demorar a se manifestar,
exigindo exames preventivos constantes para não ser descoberto em
estágio avançado e é potencialmente fatal. No Brasil, o câncer de
próstata é o 2º mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de
pele. O Ministério da Saúde estima que em 2014 surjam 60 mil novos casos
da doença no país.
O câncer de próstata está em primeiro
lugar no Pará. Até o final de 2013 são esperados 930 novos casos. Em
segundo lugar está o câncer de pulmão, cuja previsão é de 270 novos
casos.
Durante o mês de novembro a doença é
alvo de uma campanha intensa. Não só ela, mas outra que também acomete
com frequência a população masculina. O diabetes. São as duas mais
comuns entre os homens, segundo o Ministério da Saúde. No caso do câncer
de próstata, o maior adversário, segundo os especialistas, é o
preconceito. Para detectar o tumor na fase inicial é necessário o exame
do toque retal, algo que mexe com tabus sociais e culturais da
sociedade.
BARREIRAS
Uma pesquisa realizada pela Sociedade
Brasileira de Urologia com 1.061 homens de dez capitais brasileiras, na
faixa etária de 40 a 70 anos, mostrou que apenas 32% dos pesquisados
fizeram o exame de toque retal, apesar de 76% saberem que o exame é
usado para detectar o câncer de próstata.
“Noventa por cento dos casos, se
diagnosticados cedo são curáveis”, garante a médica Paula Sampaio, 39
anos, considerada uma das maiores especialistas em oncologia clínica no
Pará. “É um tumor que precisa de rastreamento, por isso a necessidade de
exames periódicos”, diz.
Segundo ela, em quinze anos a incidência
do câncer de próstata aumentou significativamente. “Acredito que havia
muita subnotificação e também como consequência da maior longevidade da
população. É uma doença do envelhecimento, que atinge três quartos dos
homens acima de 65 anos”, diz.
“Nessa faixa etária é fundamental que os
homens estejam atentos às questões de saúde, não apenas da próstata,
mas também do coração, hipertensão e diabetes. É importante que os
homens procurem os serviços de saúde para serem avaliados na
integralidade, inclusive quanto à próstata”, afirma o coordenador da
Área Técnica de saúde do Homem do Ministério da Saúde, Baldur Schubert.
A afirmação esbarra em um obstáculo. Se é
necessário que exames de próstata sejam feitos, a dificuldade em
conseguir fazer é um empecilho. Para quem não possui plano de saúde,
será preciso desembolsar entre R$ 200 a R$ 300 por uma consulta que
permita o toque retal. Buscar amparo em postos de saúde é tarefa quase
impossível já que urologistas raramente são encontrados. “É um serviço
que deveria estar mais acessível”, avalia Paula Sampaio.
Durante 28 dias José Orlando Amador fez
tratamento com medicação. Não deu resultado. A biópsia em oito
fragmentos da próstata constatou a presença do tumor. “Estávamos eu, meu
sobrinho e minha mulher no dia do resultado do exame. “Foi um impacto.
Fiquei sem ação. Sempre tive medo de hospital, cirurgia, mas saí direto
para o médico”. A cirurgia foi radical. Toda a próstata foi retirada.
O mesmo procedimento foi adotado em
Heleno de Jesus Maués, 66 anos. “Retiraram toda a minha próstata para
não comprometer o organismo”, conta. Heleno Maués se submetia a exames
todos os anos. Em 2009 relaxou e não fez. No ano seguinte veio a
surpresa. “Meu médico me perguntou: ‘Estás preparado, cabôco?’. Estás
com câncer’. Fiquei apavorado. Liguei para a mulher, para os filhos,
estava assustado. Uma semana depois fiz a cirurgia”, lembra.
Pai de quatro filhos, dois homens,
Heleno já conscientizou a família sobre a importância dos exames. A
incidência hereditária aumenta. Procedimento semelhante foi adotado por
Orlando Amador. Vestido com camisa polo verde viva, de bermuda e tênis,
evita falar o nome da doença. “Câncer é um nome forte, deixa a gente
abalado. Acaba com o cara”.Tanto Orlando como Heleno se mostram
confiantes em relação ao futuro. De três em três meses fazem consultas,
tomam as medicações necessárias. A cirurgia não deixou maiores sequelas.
Planos não deixaram de ser feitos. Tudo graças a um toque feito na hora
certa.
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