sexta-feira, 26 de abril de 2013

Envelhecimento expõe América Latina ao risco de câncer, diz estudo

Mortalidade da doença na região é maior que em países desenvolvidos.
Médicos sugerem medidas de prevenção para amenizar problema no futuro.

Tadeu Meniconi Do G1, em São Paulo
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O envelhecimento da população latino-americana, que tende a aumentar nos próximos anos, deve provocar também um grande crescimento no número de mortes pelo câncer. A conclusão é de um estudo feito por um grupo por mais de 70 especialistas no tratamento da doença na região, cujos resultados foram publicados pela revista médica “Lancet Oncology” e apresentados em uma conferência em São Paulo nesta sexta-feira (26).

Segundo estimativas usadas pelo estudo, a região deve ter mais de 100 milhões de pessoas acima de 60 anos já em 2020. Em 2030, os especialistas acreditam que o câncer vá matar cerca de 1 milhão de latino-americanos por ano.
Carlos Barrios, professor da Faculdade de Medicina da PUC-RS (Foto: Tadeu Meniconi/G1)Carlos Barrios, professor da Faculdade de Medicina
da PUC-RS (Foto: Tadeu Meniconi/G1)
”As pessoas estão vivendo até a idade onde o câncer vai acontecer”, resumiu Carlos Barrios, professor da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), um dos autores do estudo.

A incidência de câncer na América Latina (163 casos para cada 100 mil pessoas) ainda não é tão grande quanto em regiões mais desenvolvidas, como a União Europeia (264 casos para cada 100 mil pessoas) ou os Estados Unidos (300 casos para cada 100 mil pessoas).

No entanto, a taxa de mortalidade pela doença é mais alta na América Latina, o que é o maior motivo de preocupação dos especialistas do Grupo Cooperativo de Oncologia da América Latina (Lacog, na sigla em inglês).  Na América Latina, 59% dos pacientes com câncer morrem, número que cai para 43% na União Europeia e para 35% nos EUA.

Assim, a região precisa se adaptar ao envelhecimento da população e reduzir o número de mortes pelo câncer para evitar que a doença se torne um problema ainda mais grave para a sociedade.

“Essa é uma epidemia particular, porque o câncer leva muito tempo para se desenvolver”, lembrou Barrios. “O que nós estamos tentando fazer aqui é chamar a atenção para alguma coisa que vai acontecer daqui a dez, quinze ou vinte anos de muito sério”, argumentou.

Causas
O combate ao câncer em longo prazo passa, principalmente, pela prevenção da doença em suas diferentes formas. As principais causas de câncer na América Latina mostram uma região dividida internamente. De um lado, o envelhecimento, a obesidade e o sedentarismo são responsáveis pelo aumento do número de casos. De outro, a fumaça liberada pelo uso de lenha na cozinha e no aquecimento ainda é um causador importante de câncer, assim como a bactéria H. pylori, prevalente em locais onde os alimentos não são devidamente refrigerados.

De toda forma, os principais alvos dos médicos são velhos conhecidos e também fazem parte da sociedade moderna: o álcool e, principalmente, o tabaco. Agentes infecciosos como vírus do papiloma humano (HPV) e o vírus da hepatite B também estão entre os fatores de risco registrados pelo estudo.

A disparidade do investimento feito no combate e no tratamento do câncer é clara. Para cada paciente latino-americano que recebe um novo diagnóstico de câncer, existe um gasto médio de apenas US$ 7,92. Nos EUA, o investimento no mesmo paciente seria de US$ 460.

Diagnósticos
Ainda que a América Latina jamais chegue aos números dos Estados Unidos, que têm de longe o maior gasto do mundo no setor, é preciso aplicar os recursos com inteligência. Segundo os especialistas do Lacog, a prioridade deve ser o investimento em novos diagnósticos de câncer.

“O câncer é muito mais mortal nesta região que nos Estados Unidos ou na Europa Ocidental. Achamos que a principal causa para isso é que os pacientes apresentam câncer em estado avançado. Então, na verdade, já é tarde demais para curar ou fazer intervenções”, apontou Paul Goss, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, nos EUA, que liderou o trabalho.

Para isso, a região precisa resolver um problema em relação ao número de especialistas – e à sua distribuição. O Peru é um caso emblemático. Para cada 100 mil habitantes, existe apenas 0,67 médico treinado para tratar um paciente com câncer; nos EUA, esse número é de 3,75 médicos para cada 100 mil pacientes. Além disso, 85% dos oncologistas peruanos estão concentrados na capital Lima, e 20 dos 25 departamentos do país não contam com nenhum especialista na doença.
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